Indicações de Livros Internacionais.

Vinho & guerra
Don Kladstrup e Petie Kladstrup

A lógica do Cisne Negro
Nicholas Taleb

Inteligência Artificial
Kai-Fu Lee

 
 

Romance de 1995, exemplar da sua 59a reimpressão. José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura em 1998.

É angustiante comentar um romance que tem como tema principal os efeitos de uma pandemia, no momento em que enfrentamos a COVID-19 e suas consequências. Por outro lado, a história criada por Saramago vai muito além dos efeitos da pandemia que vivemos, pois a cegueira generalizada leva a Humanidade as suas origens, com a fome e a sede transformando homens e mulheres em seres selvagens; ainda que não possam enxergar suas vítimas ou predadores. “Provavelmente, só num mundo de cegos às coisas serão o que verdadeiramente são...”, diz o personagem.  Contudo, farinha pouca, meu pirão primeiro. E entram na disputa matilhas de cães que enxergam e farejam oportunidades, ainda que em algumas vezes seja a carne de um outro animal que, até algum tempo atrás, é quem dava as ordens. É o caos!

“...o mais certo é o mundo ter começado assim.” Sem escrúpulos ou qualquer principio ético e moral. A força dita as regras em um ambiente criado para quarentena dos primeiros cegos e prováveis contagiados que, se não o fossem, assim o seriam.  “O mundo está todo aqui dentro.”Sim, pelo menos bem representado no que o ser humano tem de melhor e pior, seja pela sua resiliência, seja pela sua ganância: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo, ou no partir não tem arte.”

A paralisação é total. Não há luz, água, indústria, comércio, serviços, governo, somente hordas de cegos a perambularem pelas ruas e invadirem lojas, casas e prédios em busca de alimentos e pouso. Não há qualquer condição sanitária ou de limpeza presente no mundo dos cegos. “Nunca houve tanto silêncio no mundo, os cinemas e os teatros só servem a quem ficou sem casa.”

O velho ditado: na terra de cego quem tem um olho é rei se faz presente e, neste caso, mentir pode ser uma forma de evitar desgosto maior aos companheiros: “...assim está o mundo feito, que tem a verdade muitas vezes de disfarçar-se de mentira para chegar aos seus fins,...”. Há disputa por tudo e quando dois cegos se põem em luta, sofrem os que por perto estão, ainda que não o estivessem para assistir, obviamente, mas apenas pela imobilidade. “Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira.”
Presentes a resistência e a determinação, então, ainda se dará oxigênio à esperança. “ Sem futuro, o presente não serve para nada.”E não há de ser discutido o destino porque “...nenhum de nós, candeias, cães ou humanos, sabe, ao princípio, tudo para que tinha vindo ao mundo...”

“..., um copo de água é uma maravilha, não falava para ele, não falava para ninguém, simplesmente comunicava ao mundo a maravilha que é um copo de água.” Talvez tenha sido Saramago, além de serralheiro, desenhista, funcionário público e jornalista, um profeta do final do milênio passado. Sim, talvez estejamos cegos há muito tempo e a epígrafe deste livro é um alerta: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”



Logo no início o autor nos leva à reflexão quando diz que “...milagre mesmo, por mais que nos digam, não é boa coisa, se é preciso torcer a lógica e a razão própria das coisas para torná-las melhores.” Podemos até discordar por necessidade de alguns milagres, mas o homem tem razão!

 A humanização dos personagens é a grande sacada, seja pelos sonhos que atormentam José – que sofre a pressão de ter fugido de Belém para salvar a vida de seu primogênito, sem em qualquer momento ter pensado em avisar aos demais pais o que soube com antecedência. Vinte e cinco meninos morreram.
Maria, mulher, mãe e viúva. Submissa como assim o eram todas as mulheres à época; sofrida como toda mãe o é até hoje; viúva e sozinha para criar seus filhos. Uma tragédia que não parou de acontecer desde então.

E o menino Jesus, que se descobriu adolescente percebendo as mudanças hormonais e pensamentais (não resisti!). Como qualquer um aos catorze anos já se acha forte e capaz para julgar o que é melhor para si. Sai em busca de sua verdade. Independência. Até que surge  Maria de Magdala, prostituta regenerada pelo amor a Jesus, filho de um carpinteiro, e não por ser ele o Filho de Deus. Decida o leitor no que acreditar! 

Dúvidas, angústias, segredos e revelações o acompanham por toda sua existência e “Jesus olhava para a sua pobre alma e via-a como se quatro cavalos furiosos a estivessem puxando e repuxando em quatro direcções opostas,...”

Sob o domínio de Roma a Terra Santa recebe mensageiros de paz e guerra, do Bem e do Mal. Deus e o Diabo, que negociam a vitimização de Jesus como forma de aumentar seus seguidores, pois quem acredita no Bem também sabe do Mal. “E qual foi o papel que me destinaste no teu plano.” Perguntou Jesus a Deus. O de mártir, meu filho, o de vítima, que é o que de melhor há para fazer espalhar uma crença e afervorar uma fé.”  E assim o é até os dias de hoje!

Nascido em 1903, na Índia, o autor Eric Arthur Blair, sob o pseudônimo George Orwell, alcançou o sucesso, principalmente, pelos seus romances A Revolução dos Bichos e 1984.
O objeto de nossa apreciação recai sobre o primeiro livro, que o editor apresenta como sendo uma referência á Revolução Russa de 1917. No entanto, sua leitura mostra que, com rara felicidade, a obra vai muito além do socialismo/comunismo. Ela trata de regimes totalitários que sufocam a democracia e a liberdade da sociedade, através de factoides (ou fake News, como queiram!), mentiras, desrespeito a Constituição local, traições e corrupção.

Após o sucesso do Animalismo, são aprovadas regras básicas de comportamento e convivência que sofrem mudanças ao longo do tempo, para beneficiar aqueles que estão no poder (qualquer semelhança com que ocorre no Brasil, não é mera coincidência). A desobediência está na liderança e, para não se fugir as regras, mudam-se as regras. Exemplo disso são as alterações sofridas por alguns dos sete mandamentos instituídos pela governança, tais como: Nenhum animal beberá álcool EM EXCESSO - acréscimo realizado após um porre da cúpula do poder; ou Nenhum animal matará outro animal SEM MOTIVO – depois da execução daqueles que, por algum motivo, discordaram dos mandantes. Por fim, o que prevalece é que “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros.”

A sátira está em colocar os porcos no Poder (aqueles que vivem na sujeira, na imundice). São eles os mais inteligentes dos animais da Fazenda Solar (sabem ler e escrever com desenvoltura). Assim, vendem a ideia de que “Só a bravura não basta... A lealdade e a obediência são mais importantes”. A malicia e o poder de persuasão do porta voz do comandante debocham da ignorância e falta de Educação dos demais: “Eu poderia lhe mostrar isso,..., se você soubesse ler.” A maledicência destrói heróis e a História de uma sociedade. Todo regime totalitário quer reescrever o passado aproveitando-se de uma memória curta e falha.

Atualíssimo, apesar de ter sido publicado há mais de 75 anos, esse livro agrada o leitor de qualquer idade ou corrente política, pois ele não escolhe lado, só mostra o quanto é perversa a humanidade.



Uma releitura da história que conhecemos. Eu nunca tinha parado para pensar que o homem tenha coexistido, com uma ou mais de sua fases de evolução. Neandertais, erectus, habilis...Caramba! Bora ler!


Sim, ai não dá! Você fica empolgado e vai querer saber mais. Então, a leitura continua!


“Seria engraçado se não fosse trágico”, já ouviram isso? Mas é! Depois de apresentar a evolução da espécie humana em seus dois primeiros livros, Yuval Harari mostra que o predador alfa, o ser mais inteligente do planeta, está produzindo sua própria destruição. Como sobreviver a tudo isso? Há profissões que já deixaram de existir e o futuro tecnológico promete acabar com muitas outras. Prepare-se!

 

Publicado em 1605, pelo autor espanhol Miguel Cervantes, o multipremiado romance faz sucesso há mais de quatrocentos e vinte anos. É considerado o primeiro romance moderno e um dos maiores clássicos da literatura mundial. Ao longo do tempo foi adaptado para o teatro, cinema e história em quadrinhos. Até Portinari retratou a história de Dom Quixote que, de tão famoso, deu origem ao adjetivo "quixotesco", referindo-se aquele que, apesar das dificuldades, segue em frente acreditando e lutando contra as adversidades.

Dono de uma propriedade onde vive com uma governanta e sua sobrinha, Alonso Quixano, é um apaixonado por livros, em particular, sobre os que contam histórias de cavaleiros, com suas lutas, glórias e amores.

Em função de uma esquizofrenia (doença reconhecida dessa forma somente a partir de 1911), Quixano passa a trazer para sua vida real a ficção de suas leituras, transformando-se no cavaleiro Dom Quixote. Com o tempo e algumas promessas, ele consegue a ajuda de um aldeão que se transforma em seu engraçado, curioso e fiel escudeiro Sacho Pança.

Apesar das distorções que o leva a viver situações totalmente fora da realidade, o caráter, a fé e a bondade de Quixano, o bom, estão presentes em Dom Quixote, como podemos observar quando ele aconselha seu escudeiro: "Dê mais atenção aos pobres que aos ricos, Trate todos bem, de maneira igual, dos criadores aos nobres. E, Sancho, o conselho mais importante: seja justo."

Seguindo o conselho, não seria justo de nossa parte contar qualquer aventura de nosso herói, roubando o prazer que deve ser conferido aos leitores desta grande obra.



Kenneth Maria Follet, nasceu no País de Gales, em junho de 1949 (73 anos).
Ambientado no início do século XX, mais precisamente, antes da Primeira Guerra Mundial, o romance aborda o inicio da luta da mulher pelo direito ao voto (Movimento sufragista). E pensa a jovem Charlotteque “Os homens aceitavam um mundo brutal e injusto porque não era brutal e injusto para eles, mas sim para as mulheres. Se estas também tivessem poder, não restaria mais ninguém para ser oprimido.” Hum! Na verdade os oprimidos são muitos até hoje: negros, pobres, deficientes físicos, e tantos outros.

O confronto de ideais entre um anarquista russo com as estratégias diplomáticas de um Conde inglês (que serve a ninguém menos do que a Winston Churchill) - que têm interesses contrários em torno das negociações para a assinatura de um contrato de ajuda mútua entre os dois países, Rússia e Inglaterra, com vistas a enfrentar uma Alemanha em ascensão na Europa – resulta em sucessivas tentativas de assassinato de um Príncipe russo, com descrições de ataques que em muito lembram as ações terroristas atuais.
Relacionamentos impostos, mentiras e traições, e um ensinamento sobre “A moralidade de

Tolstói. Fazer o bem não à torna feliz, mas fazer o mal certamente a deixará infeliz.”

O cenário de uma Londres movimentada e dividida entre as velhas carruagens e alguns automóveis a combustão, que já se impunham no trânsito, não nos oferece uma boa imagem de limpeza e tráfego das ruas principais.

Por fim, a intervenção de Churchill no evento final é o que choca. É o Poder conduzindo o rumo da história, como sempre foi e como sempre será.


Sobre o autor

Romancista e dramaturgo francês, Alexandre Dumas produziu dois clássicos da literatura: Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, este último, lançado em 15 de janeiro de 1846.

I Volume

A saga de Edmond Dantès ocorre em um período de grandes transformações na França e na Europa, com a Revolução Francesa influenciando outras monarquias da região. Estadista e grande estrategista, Napoleão Bonaparte I (título dado pelo Senado francês) avança sobre várias nações da região alargando o poder do Império Napoleônico. Ao tentar isolar comercialmente a Inglaterra, é desafiado pela Rússia e por Portugal, decidindo invadir as duas nações. Em Portugal, provoca a transferência do comando do reino para sua colônia mais promissora: o Brasil. Na Rússia - como veríamos acontecer um século depois, com as tropas alemãs comandadas por Adolph Hitler - as tropas francesas também perderiam suas batalhas em solo russo devido ao rigoroso inverno, com intenso frio muita neve e lama.

Marujo servidor de uma companhia de navegação e apaixonado por Mercedes, Edmond, aos 19 anos, se vê envolvido em uma trama maquiavélica, engendrada por pessoas de seu círculo de amizade (isso era o que ele imaginava!) para destruir suas pretensões de chegar ao comando do navio Pharaon e de se casar com a catalã.

Ainda que já arquitetado o plano, ocorre que: aproveitando-se da ingenuidade e honestidade do rapaz, quando o procurador substituto Villefort, descobre o teor de uma carta que Edmond recebeu em passagem pela Ilha de Elba, isso se torna decisivo para o aprisionamento do rapaz e o início de uma história de abnegação e superação. Mas mesmo nas piores prisões existem anjos da guarda, alguns com nome: o de Dantès se chamava Abade Farias.

Entre intrigas, mentiras, traições, corrupção e suborno, a sociedade francesa se equilibra entre bonapartistas e monarquistas, todos querendo um naco de poder, uma posição, um cargo que conceda autoridade e riqueza, respeito e glória. Touché!

Liberto de seu cárcere, Edmond deixa de existir e dá lugar ao Conde de Monte Cristo e outros mais. A respeito disso não devemos falar para não dar spoiler, estragando a viagem que o leitor deverá fazer nos labirintos dessa história formidável que, estão contidas em seu primeiro volume de setecentos e doze páginas. Não se assuste, não dá nem para cansar. Vamos ao segundo volume.  

II VOLUME

Já com seu plano de vingança arquitetado, Edmond transfere-se para Paris com o objetivo de se aproximar da alta sociedade parisiense, onde encontrará as famílias de Villefort, Danglars e Morcef.

A vida foi benevolente com seus algozes, pois esses ganharam títulos, riqueza e respeito. Ferdinand Mondego se torna o Conde de Morcef; Danglars barão; e Villefort, um homem poderosíssimo como o procurador do rei. Mas a vingança do Conde de Monte Cristo é implacável e todos terão seus dias de escuridão. Uma tempestade de acontecimentos funestos os espera.

Por outro lado, Monte Cristo também irá ajudar muita gente, tornando-se para muitos um deus indecifrável e misterioso. E os maiores beneficiários desse seu lado humano serão os familiares do Sr. Morrel, seu antigo patrão, que lutou para ajudá-lo quando todos lhe viraram as costas.

Contudo, ao executar seus planos de vingança, nem tudo sai como o planejado e, é neste momento, que o homem que saiu de um cárcere de catorze anos para plena riqueza e poder, não escapa às crises de consciência. É verdade que não dura muito, até porque, após a morte de uma pessoa não há o que fazer, ou será que há?

Se não pelo exposto, o fascínio que esse romance exerce sobre seus leitores por quase dois séculos, já seria o bastante para o leitor se interessar e embarcar nesta fantástica aventura.

 

Tratamos aqui da leitura de um best-seller.

Sim, é um livro de autoajuda, mas que trás em si pensamentos e histórias de sucesso de gente conhecida e famosa que, realmente, pode servir a muita gente. Sua leitura é fácil e prazerosa.

Napoleon Hill foi um escritor estadunidense influente na área de autoajuda. Assessor de Woodrow Wilson e Franklin Delano Roosevelt, presidentes dos Estados Unidos. Dizia que: “o que a mente do homem pode conceber e acreditar, pode ser alcançada”.

Portanto, tudo é possível! E os últimos avanços tecnológicos nos mostra o quanto isso é verdadeiro, vide a revolução ocasionada pela criação da Internet e mais recentemente, pela plataforma ChatGPTque impulsiona o uso da inteligência artificial.

Algumas coisas parecem óbvias, como por exemplo: “O ponto de partida de todas as conquistas é o desejo”, sim, mas atrelado a isso temos que ter persistência, força e energia para não esmorecer. Certos de que“Pobreza e riqueza podem mudar de lugar.

Mas quando a riqueza toma o lugar da pobreza, a mudança acontece por meio de planos bem concebidos e cuidadosamente executados”. Segundo Hill, isso não é válido para a pobreza. “A pobreza não precisa de plano. Não precisa de ajuda de ninguém porque é ousada e implacável. A riqueza é acanhada e tímida. Precisa ser atraída”.

Quem sabe o leitor já não está de olho nela há bastante tempo, hein?


Confesso que não é o tipo de leitura que mais gosto, contudo, trata-se de um thrillercheio de questões morais e surpresas. Gera medo, irritação, dúvidas, e por fim, uma íntima cumplicidade com a protagonista, DarbyThorne, que quer fazer a coisa certa, ainda que isso possa lhe custar à própria vida!